EM BREVE!!!

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Os filmes de terror sempre foram associados à sexualidade e ao fetichismo. São recorrentes a submissão dos corpos (principalmente femininos) aos assassinos, às armas perfurantes e penetrantes, ao prazer da impunidade e da inconsequência (os psicopatas sempre ressuscitam para um novo filme). O mundo dos filmes de terror é um universo sem regras nem leis – os policiais são pouquíssimo eficazes nestas histórias – de modo que mesmo Freud sugeria que a função das obras de terror era expiar um desejo inerente ao ser humano, saciando os impulsos violentos do indivíduo sem que ele precise tornar a agressão real.
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Estas reflexões são pertinentes diante de uma produção como A Morte do Demônio (2013), refilmagem do clássico de terror de 1981. Trocando o humor do primeiro por ainda mais sangue, o filme decide oferecer, em curtos 90 minutos, uma quantidade recorde de membros decepados, olhos perfurados, sangue, vísceras, vômito, urina, e todo tipo de líquido sendo espremido dos corpos de cinco belos jovens, convenientemente presos em uma cabana.

Como em todo filme de terror fetichista, as pessoas são alvos em potencial, esperando para ser retalhadas. Ao invés de construir o suspense e assustar o espectador, como por exemplo com portas que se batem apenas com o vento, o filme é de uma economia implacável: toda porta que bate indica a presença de um assassino demoníaco; atrás de toda promessa existe uma recompensa. Esta escolha dilui a tensão – afinal, a intensidade depende da oscilação de tons – mas mostra que o excesso é a opção escolhida.
A relação com o erotismo é evidente, e de certo modo inusitada. Como sempre, as mulheres são as principais vítimas, mas também as principais assassinas. Até o terço final da história, apenas mulheres são possuídas, tendo os pobres homens como alvos principais. Curiosa inversão de valores: ser possuídas por demônios faz delas muito mais fortes que os homens. A primeira possessão já se configura como um estupro entre duas mulheres: uma delas libera da boca um imenso cipó preto e grosso, que desliza sobre o corpo da outra e se introduz na vagina da vítima imobilizada. Mia, a protagonista de A Morte do Demônio, nada mais é do que uma garota fecundada pelo mal, como a protagonista de O Bebê de Rosemary.
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A partir daí, a trama segue o imaginário lésbico: vestida em pequenos trajes, Mia monta sobre a cintura de Olivia e vomita na cara da amiga, contaminando-a. Em seguida, Mia corta a própria língua e beija Nathalie, contaminando a namorada de seu irmão – outro fetiche erótico. Quando acuadas, as moças adotam a postura de seres frágeis, infantis (“Por que você está me machucando, irmãozinho?”, chora Mia), para melhor atacar diante da hesitação masculina. Se as mulheres do filme são seres fortemente erotizados, seu potencial sexual é direcionado para outras mulheres, contra os homens.

Esta é uma primeira ideia que faz pensar em A Morte do Demônio não como um sonho erótico, mas como uma espécie de pesadelo erótico. As imagens do desejo estão presentes, mas elas se viram contra seu público-alvo – no caso, o espectador jovem e predominantemente masculino. Mesmo no clímax, os homens são eliminados da trama e sobra um acerto de contas narcísico entre Mia e o demônio, encarnado por ela mesma. A luta é vencida da maneira mais gore e mais fálica possível: uma das duas introduz uma serra elétrica ligada na boca da outra e faz movimentos constantes de vai e vem, enquanto litros de sangue voam pelos ares, e caem dos céus.
Mas a dimensão sexual não se limita aos objetos fálicos e aos corpos acessórios. Nos filmes pornográficos, por exemplo, a ilusão de prazer se encontra na ausência de barreiras, no mundo em que tudo é possível. A lógica de A Morte do Demônio é a mesma: embora a cabana esteja praticamente abandonada, existe sempre uma faca, uma serra elétrica, uma máquina de pregos ou gasolina e fósforos à disposição. A correnteza cobre a estrada no exato momento em que os personagens precisam atravessar para fugir dali, e o remédio procurado por Olivia é o único presente no armário de remédios, com o rótulo virado para o leitor.
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O prazer deste filme vem de sua idealização da morte, de sua noção de um destino perverso e cruel, que bloqueia todas as possibilidades de escapatória, liberando todas as possibilidades de crime. O roteiro fornece aos personagens as armas, os corpos e diz: Divirta-se. O estudo do fetichismo da imagem em programas como Big Brother e afins deve muito a estas experiências irreais, mas simbolicamente mais potentes, de carnificina como consequência lógica da clausura. Nos Big Brothers e semelhantes, os jovens apenas fazem sexo mas não se matam. Nos filmes de terror, eles fazem os dois.

Por fim, A Morte do Demônio não subverte a lógica dos filmes de terror, mas permite pequenas concessões ao intensificar sua premissa básica. O prazer do espectador é nutrido, mas de maneira incômoda, porque incessante, sem válvula de escape (sem gozo, senso de humor, por exemplo). As soluções do tipo “foi tudo um sonho” não existem nesta trama. As moças esculturais e castradoras – uma loira, uma morena, uma negra – são as atrações principais de um espetáculo que tanto atiça quanto frustra o desejo do público.



Por Bruno Carmelo






By: Lord Kyo


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